15 de janeiro de 2010

Então ai vão os escritos da Dinha, "De passagem mas não a passeio" (ah! e dá pra baixar aqui)


I

O ano novo injetou no calendário
nova dose de veneno.
Nos convulsionamos todos
violentamente.

O amor foi atirado
na janela do vizinho:
Fruta podre quebrando
a vidraça do teu peito.

Tentaste juntar os cacos
mas o resultado
feriu tuas mãos vazias.

Então erguemos os olhos e vimos:
Multidões de mãos feridas
Te acenavam como num sonho...

II

O ano entrou chorando
Ou nós é que bebemos
E não vimos que era chuva
O que parecia choro?

O amor foi prolongado
Como um segredo
Dito no ouvido de um homem do povo?

O amor foi quebrado
E é a base de tiros
Que ele sangra.

III

O ano novo entrou correndo
assustado pelos becos.
Entrou com fome.
E as ondas do mar, no mar
Cheiravam sangue.

A esperança que ele trouxe
Em pouco tempo fedia
A escárnio e peixe podre
- por isso anda escondida
nos necrotérios domésticos
das geladeiras e freezers.

Mas o ódio não é capaz
de apontar lugar seguro.
Plantaremos girassóis
Pra espantar esse céu cinza.

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