28 de outubro de 2009

o nome da saudade é silêncio

silêncio de águas batendo por dentro
era um desejo de ir que não ia
desejo de ficar quando vento...


(Cercado de Juliano Holanda, Publius e Gustavo Azevedo)

22 de outubro de 2009

uma de minhas faces é sertão...

outra altiplano.

Flor Isabel, toca o charango desde seus oito anos.

Menina música conta as incertezas da história desse instrumento. Certeza apenas de seu lugar nascimento: em Potosi, às épocas da invasão espanhola.

Um dos sons mais lindos que já escutei..


Flor Isabel, é responsável pela trilha sonora de música tradicional boliviana do documentário Kollasuyo, do diretor Pedro Dantas.

19 de outubro de 2009

Da nascente - ou do encontro entre o mar e o rio


Reparar em tudo pela primeira vez, não apolipticamente, como revelações do Mistério, mas diretamente como florações da Realidade. (Fernando essoa, Livro do Desassossego, por Bernardo Soares)
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Certa sensação de Maiolo me recaia em alguns momentos ao ler aquele artigo...
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Eu nascida no hospital tal, pais tal, cidade qual, sei-corpo que isso não me contém. Entre-mundos dos quais estou ou não estou. Ler o artigo de Rolnik sobre a trajetória de Maiolo foi reflexivo.
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De onde vens? Venho do caminho.

“Habitante de um entre-mundos, nunca totalmente aderida a nenhum deles, Maiolino desde cedo será lançada no limiar entre o mapa de sentidos de um mundo já incorporado e a invisível e indizível vivência de um mundo larvar nascido de uma nova mistura”.

Minha configuração geológica transmuta-se entre as camadas que constituem essas subjetividades. Venho da trajetória de onde os pés pisam, a pele tateia e do que não é visível.. No entanto sei linha, da organização que a forma permite.


Compor sentidos entre argilas e camadas faz se inevitável. Não, não é possível encontrar esta origem fundadora, sou muitas e logo mais fui. Universos

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Como escreve a própria artista, “aí há vida”.

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O texto lido é este aqui, da Sueli Rolnik, aqui.

ojos que miran





18 de outubro de 2009

acordar.

devagarzinho.
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entoar.
tons de chico.

que ficaram na pele
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andar.
por parelheiros.

cheiro bom. de mato.
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conversar.
entre tantos.
pra chegar a um caminho comum.
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ouvir.
histórias. boas histórias.
saberes vivos.
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deixar.

uma brecha.
pra assentar.
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conhecer.

o ilê. cada pergunta tem seu tempo.
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ler.

cordel. para minha vó.
rir. rir.
.
ouvir.

mais histórias. contar da vida.
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ver.

filmes com maninha e taco.
cochilar e acordar na poesia da lavoura. arcaica.
raduan.
.
acordar.

de madrugada.
pra voltar a dormir.
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escrever.
antes.
pra conseguir depois.

desenhar. já na folha que deixou de ser branca.
entao.


dormir. dormir.

16 de outubro de 2009

Tribo

Zé Modesto
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"Ademais a vida é curta, curto é nosso tempo aqui
Bom viver se somos juntos, pra somar sem dividir
Dividir seja a comida, pra gente viver melhor
Come bem quem come junto, com mais gente ao seu redor
Ao redor, nos seja a alegria, das que o coração descuidou
Quando viu brotava poesia e atinou já vinha o amor
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Corre... Vem ver... Tempo de ser...
Mais descalço, simples pé no chão. Sem questão...
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De festar, rodar, cantar, comer com a mão. Sem questão
De abraçar a tal humana condição. Sem questão
De agarrar a laço o cerne da paixão. Sem questão
De acuar, rosnar, morder o mundo cão. Sem questão"

4 de outubro de 2009

De cada uma das historias que nos tecem

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Os que morreram
não se retiraram
Eles viajam
na água que vai fluindo
Eles são a água que dorme.

Os mortos
não morreram.
Eles escutam
os vivos e as coisas
Eles escutam as vozes da água

Birago Diop

Mia Couto é meu presente delicado destes dias. Este poema é o que inicia O outro pé da sereia. Apenas abri agorinha, logo li estas palavras, lembrei de Mercedes, de minha abuelita, dos que se foram e dos que que tem medo desse negocio de ir-se e foi minha vo quem disse dia desses - "negocio ruim esse de morrer", eta aperto no coração.

Si se calla el cantor calla la vida

porque la vida, la vida misma es todo un canto.