29 de junho de 2009

Escrever...

por Graciliano Ramos
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.

Para a menina que "roubava" figuras

Encontrar é achar, é capturar, é roubar, mas não há método para achar, só uma longa preparação. Roubar é o contrário de plagiar, copiar, imitar ou fazer como. A captura é sempre uma dupla-captura, o roubo, um duplo-roubo, e é isto o que faz não algo de mútuo, mas um bloco assimétrico, uma evolução a-paralela, núpcias sempre "fora" e "entre". Gilles Deleuze e Claire Parnet, Dialogos

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Produção: Madruga, Zig, Moranguinho, Brêh, Di-“L”, Patty, Elania, Rose e Dri

26 de junho de 2009

Caminh.ando

a pé, cochil.ando. de carro, decol.ando. de ônibus, camin.ando. de pau de arara, vo.ando. de caminhão. aterriss.ando. de avião, en.solar.ando

24 de junho de 2009

Na mochila,

Sobrenome de gosto de fruta na boca, dois nomes de cidades no bolso e o nome de uma rua na mochila.

Referenciais para encontrar Ayde.
Minha vó comentou sua preocupação com o interrompimento silencioso da comunicação por cartas com a irmã. As duas não se viam há cerca de trinta anos, mas foi quando a voz e os trejeitos não apareceram nem por postal que a saudade passou a ser mais doída. Não saber de paradeiro. Ela não voltaria para aquelas terras, nem para vê-la (e essa é outra história). Assim, já quando soube de minha ida para aquelas bandas suspirou: "Estará Ayde viva?".
A fruta, é Cacau tornado sobrenome. As vilas, Lagoa Comprida e São Bento. A rua, dos Prassianos.
Nada no Google. Nada no mapa do Ceará. Ninguém por lá conhecia. Nada na Lista Telefônica de Fortaleza.
Tudo na mochila, mais uns dias extras.

17 de junho de 2009

Pausa para o que ainda não encontrou palavra

(Foto Fê Vargas - comunidade da Prainha do Canto Verde, Beberibe - CE)