24 de julho de 2009

No creo en sacis, pero que los hay los hay!

Será? E quem não acredita?
Lá no Barragem dizem que as vezes ele aparece.
Pois olha onde achei ele.
Fala pra eles Tati!
http://eosaciurbano.wordpress.com/

22 de julho de 2009

.criar mundos

*foto da Tati.
pode ser navegar por oceanos
dentro de uma mala de desejos
onde se carrega sonhos.

pode se criar qualquer morada
qualquer terra, sem qualquer rei
como fazem os poetas,
como fazem as crianças

.recriar mundos
possiveis.

A menina avoada

de Manoel de Barros
Tenho um livro sobre águas e meninos
Gostei mais de um menino
Que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
Era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
Por que gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interronper o vôo de um pássaro botando ponto no final da frase.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos.

21 de julho de 2009

quem dá ouvidos a criança?

a menina diz que não pode dormir em dias de chuva. seus pensamentos são carregados pela possibilidade de inundação. nestes dias não pode chover em seus sonhos. a chuva não combina com sua morada, que fica logo a beira da represa. e ainda lhe dizem que é errado morar ali, é crime. se ela lhes contasse...

20 de julho de 2009

"olhos deslumbrados, visitando o outro lado do mundo"

Mia Couto, em Antes de nascer o mundo

Passo pela rua, caminhando até a padaria da esquina. Ao lado um senhor sentado em sua cadeira, dentro da serralheria. Seus olhos bem fechados a brincar com sua dentadura que passeia para lá... passeia para acolá... Seu rosto me desperta curiosidade, como cocegas dessas de risada tranquila, leve de ver ele sentado de frente a rua sem perceber meu olhar passando... Por andariam brincando seus pensamentos?
Que coisa esta de se deleitar por passagens. Isso depois de conversar com os silêncios de Mia Couto no trem, enamorando-me pelos espaços preenchidos entre cada uma de suas palavras.
Fazia tempo que não lia tamanha delicadeza. Muitas leituras me faziam sentido, me davam graça, me tiravam o sono, me adormeciam, mas suas sensações são coisas que ainda não posso traduzir, nem sei se poderei, é mesmo assim, como "afinar silêncios". Ler os silêncios de Mia e afinar os meus...

14 de julho de 2009

Exposição Olhares sobre o Extremo

no Ponto de Cultura do Cedeca Interlagos e pelas ruas do Grajaú.

13 de julho de 2009

as palavras me escondem sem cuidado

Manoel de Barros, em Livro sobre nada

Poeminha datilografado para Maria Cecília


Ela, beijaflor.
Ele, mangarosa.
.
Ele, sonhando em voar.
Ela, pairando no ar.

.
devir beijarosa ela..
devir mangaflor ele..

.
ela. pousando em terra
ele. caindo do pé
.
então, ela só ela-flor
então, ele só ele-rosa
.
seguiram por outras terras.
beijaram outros ares.
.
ele seguiu por aí.
ela descobre onde está.



10 de julho de 2009

fotografando frio na barriga


Escrever...

por Mia Couto... ou por Manoel de Barros...

Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: eu tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porquê não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado e gravidez. Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
Mia Couto, em Antes de nascer o mundo *
Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão, tipo água pedra sapo.
Manoel de Barros, em O apanhador de Desperdicios **
.
* Capturado do blog da Ju - http://contraovicio.blogspot.com/
** Ele inteiro aqui - Compondo silêncios

7 de julho de 2009

Olhares...

Lindo trabalho, entre muitos olhares... Abertura nesse sábado!

No Ponto de Cultura do Cedeca Interlagos e pelas ruas do Grajaú...

6 de julho de 2009

para dias como esses...

.
se
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar Leminski

5 de julho de 2009

Hoje almocei saudades.

Quando de repente todos aquietam as vozes e conversam com seus pensamentos, ao som daquele velho repertorio de samba. Nesse momento minha abuelita veio visitar-me. E ai não era ela só... vinha com a irmã em La Paz, com a amiga em Joinville, com o rapaz do país Basco e com um tanto de memórias dessas e de outras épocas.

Originais do Samba - Demonstracao

Escrever...

Para Deleuze e Parnet
Escrever é traçar linhas de fuga*
O objectivo da literatura é pois para Deleuze, e como ele diz, “partir, evadir-se, traçar uma linha” de fuga, sem que isso signifique fugir da vida mas, ao invés, fazer a vida fugir, escapar às suas limitações impostas quer pelo eu, quer pelo estado presente do mundo**.
.
* DELEUZE-PARNET, Dialogos
** SOUSA DIAS, “Partir, evadir-se, traçar uma linha”: Deleuze e a literatura

Do obscuro,

que é tão visivel.


2 de julho de 2009

metalinguagem no msn

Fulana diz:
endereçamento!
Fulana diz:
toda escrita tem...
Sicrano diz:
Ah é??
Fulana diz:
sim
Fulana diz:
mesmo aquela que nao se mostra a ninguem
Sicrano diz:
Hum....Acaba sendo como uma "carta extraviada", não??
Fulana diz:
hahaha

Palavrear...

Pra escrever preciso de um tempo, que não é cronológico.

É um tempo dos passarinhos,
É um tempo da saudade,
Do caminhar pela cidade,
Da ciranda na fogueira,
Das conversas ao pé do ouvido,
Da boniteza e da feiúra,
Tempo da vida. Ou da morte.


Mas nestes dias. Corridos pelos segundos, cronometrados para daqui a pouco. Palavras, imagens e sentidos passeiam em mim. E mesmo assim quando sento nesta cadeira azul o tempo útil apaga as letras de minha máquina de escrever.


(de outros dias)